Tenho o meu conjunto de valores, tudo aquilo em que acredito e transmito aos rapazes, deve-se às minhas vivências, a tudo e todos os que passaram na minha vida, desde a minha família, os meus filhos, o meu marido, os meus amigos, em suma, a tudo o que me rodeia.
Adaptei os valores que os meus pais me transmitiram e após construir a minha família, uns mantive, outros inevitavelmente foram simplesmente abolidos, porque já não faziam sentido e outros foram adquiridos porque assim aconteceu e os adaptámos à nossa nova realidade.
Até porque, quando se constrói uma vida com outra pessoa, deve haver uma adaptação do casal à nova realidade. São 2 pessoas com formas de ser, estar e pensar diferentes, e com uma grande bagagem emocional às costas. E por muito amor que haja, há sempre conflitos e interesses, e estes adensam-se quando nasce uma criança.
E os valores que queremos transmitir ao novo ser devem ser muito bem pensados e adaptados à nova família nuclear.
Costumo comparar os valores das novas famílias ao ditado britânico sobre as noivas – ‘something old, something new, something borrowed, something blue’ (algo velho, algo novo, algo emprestado e algo azul).
Quero com isto dizer que devemos trazer os valores dos nossos pais que realmente fazem sentido (something old), acrescentar valores que fomos adquirindo e que fazem sentido à nossa realidade (something new), adaptar e trazer ‘emprestados’ valores que até achámos importantes de pessoas que passaram na nossa vida (something borrowed) e simplesmente vivê-los e transmiti-los.
Agora estás a pensar que me esqueci do something blue, não esqueci, mas não tenho nada a acrescentar nesta parte, mas não a podia retirar do ditado… Mas pensando bem que o meu mundo é azul bebé, como escrevi no artigo ‘a maternidade não é cor de rosa’ fica então incluído também, pois os meus valores foram adaptados e alguns abolidos muito por ter rapazes…
Agora dizes-me ter rapazes ou raparigas, a educação é a mesma? Acredito que sim!
Mas mudar mentalidades de pais, sogros e marido relativamente à educação dos rapazes e aos valores que lhes podem e devem ser transmitidos, custa muito mais.
Sei perfeitamente que estamos em plena evolução e também sei que os rapazes já estão a construir os seus valores, tendo por base os meus e os do pai, e hão-de adaptá-los de acordo com as suas necessidades e realidades.
Por vezes, é difícil para os pais aceitar que o que transmitiram à sua criança, não está a ser seguido à risca, afinal porque não? Se nós somos os pais e o melhor exemplo para os nossos filhos, porque não fazem sempre o que pedimos?
Nós também já passámos isso com os nossos pais… E achámos que devíamos seguir por outro percurso que não o deles, afinal quantos de nós já disseram: ‘ Nunca vou fazer isso quando for pai/mãe’ e a verdade é que, se nos marcou e magoou, realmente não o iremos fazer e o mesmo acontecerá com as nossas crianças.
Precisamente porque há uma evolução, uma adaptação a um novo mundo. E também porque eles não vivem o que nós vivemos, nem tão pouco como o vivemos.
E sei perfeitamente que os valores que o primogénito irá desenvolver não vão ser iguais aos do caçula, apesar da educação ser em muito semelhante, mas as pessoas que passam e passaram nas suas vidas e as vivências foram completamente diferentes e nenhum deles também vai ter os valores totalmente igual aos meus, é inevitável, mas acima de tudo saudável!
Por vezes dou por mim a pensar qual o melhor caminho a seguir e chego à conclusão que não há um caminho melhor ou pior, devemos tentar, e tentar novamente, e se errarmos devemos voltar a tentar e refazer as vezes necessárias, o importante é não desistir.
Afinal não há receitas prontas na parentalidade! Porque somos seres humanos, lidamos com seres humanos e com formas de ser e estar diferentes na vida.
Os resultados vamos vendo no dia-a-dia da vida da nossa criança, até porque o caminho da parentalidade é um processo de aprendizagem diário e contínuo.
Costumo dizer algumas vezes, a minha vida já fez sentido, se os valores que transmiti aos rapazes, fizer deles pessoas felizes, coerentes, de bem com a vida e confortáveis com a sua forma de ser e de estar. Enfim sentirem-se realizados com as suas escolhas ou saberem lidar com elas da melhor forma.
Aí, sinto que os meus valores foram os melhores para a minha família em determinado contexto, os que não foram tão bons, podes ter a certeza que foram adaptados ou abolidos mesmo depois de já os ter adquirido e assumido.
Quando os rapazes nasceram prometi a mim mesma estar disponível em todos nos momentos da vida deles, para os quais eu pudesse ter poder de escolha e é isso que faço, independentemente de tudo o resto e do que possa vir a ganhar ou a perder.
O meu amor incondicional por eles é mais importante que tudo o resto! Por isso, tenho que aceitar e respeitar os seus novos valores e sei que aprendo com eles e muito possivelmente irei acrescentar os seus valores aos meus.
Afinal a parentalidade é um processo de aprendizagem mútua e contínua e tal como dizia Antoine de Saint-Éxuperie no Principezinho – ‘Aqueles que passam por nós, não vão sós, deixam um pouco de si, levam um pouco de nós.’