A sociedade mudou e com ela mudaram-se valores, tradições e costumes.
Se muitas coisas melhoraram, outras nem assim por isso.
O mundo de amanhã, já começou ontem, talvez com a nossa geração, com aquilo que prometemos que não faríamos quando fossemos pais, mudar a nossa escala de valores, alterar prioridades que nos foram impostas desde pequenos e nunca percebemos porquê e queremos a todo custo mudá-la.
Não queremos que falte nada às nossas crianças e nem percebemos o mal que lhes fazemos com a nossa superproteção!
Quero com isto falar-te daquilo que não falta em nenhuma casa: telemóvel android, tablet ou computador e principalmente internet, senão nenhum dos anteriores fazia sentido!
Nada destas coisas existia quando éramos crianças, daí também brincarmos na rua!
Lembro-me de brincar com os meus amigos de infância, ao toca e foge…, sabes o que é? De certeza que sim!
Tocávamos a uma campainha num prédio e depois fugíamos que nem doidos, com medo de sermos apanhados… Aquela adrenalina era demais e depois já bem longe do local do ‘crime’ ríamos que nem uns perdidos. E começávamos logo a magicar a próxima asneirola…
Hoje isso não acontece, também há perigos que não existiam naquela altura, mas os maiores perigos vêm do aconchego do nosso lar – da disponibilidade ilimitada de dispositivos ligados à internet que permitimos às nossas crianças.
Se estas novas tecnologias nos trazem benefícios? Claro que sim!
Senão ora vê as pesquisas de artigos que estão disponíveis, para trabalhar, para aprender e até para momentos de ócio, como o que estás a fazer agora, a ler esta newsletter…
Mas no caso das nossas crianças, não é bem assim, apenas os utilizam para viver para os conteúdos desses dispositivos e não desenvolvem as suas competências e habilidades como deveriam e como era suposto.
Neste mundo, não há necessidade de ter frustração, porque se por algum motivo não gostam, passam à frente, não precisam de se chatear com nada nem procurar, porque basta haver uma coisa que gostam e pesquisam, que o algoritmo, vai ‘buscar’ coisas semelhantes, ouro sobre azul!
Nem é preciso procurar que tudo vem parar às mãos, como num passe de mágica.
As crianças aprendem mais depressa a ‘mexer’ num dispositivo eletrónico, do que a criar competências básicas necessárias para a sua vida futura.
Acabam por não saber o que é viver em sociedade e as relações que se constroem são fugazes e nada duradouras. Não conseguem lidar com a frustração, porque vale tudo, e tudo é permitido, só não vale chorar!
As nossas crianças já não brincam como se brincava, aprenderam a ficar fechadas no seu mundo. Mundo esse, desconhecido para nós pais, que tem uma janela aberta a estímulos diferentes que não promovem interação com ‘gente real’.
Para os pais que estão cansados e esgotados depois de um dia de trabalho, ter as crianças sossegadas, é a cereja no topo do bolo!
Mas este é um presente envenenado, não se sabe o que daí advém!
Estórias e exemplos há muitos, mais do que é suposto, até porque só agora se começam a verificar os efeitos dos ‘filhos dos dispositivos’.
Todos os que foram educados desde bebés a ver 1 vídeo no YouTube para comer a sopa, para estar sentado à mesa do restaurante sem fazer barulho, para adormecer… acabam por ingressar no 1º ciclo sem as competências básicas para as aprendizagens escolares, porque não adquiriram o básico…
Não conviveram com outras crianças sem ser a reproduzir o que vêm nos jogos e vídeos! Não sabem falar corretamente a língua materna e acabam por associar estrangeirismos que não são utilizados no dia-a-dia, apenas na gíria, e quando falas com eles corretamente, ficam com olhar vago e perdido que não percebem o que estás a querer transmitir.
Os nossos adolescentes estão cada vez mais ensimesmados à procura de um sentido da vida que não encontram, porque o que vêm no seu mundo mágico não existe, as vidas perfeitas que procuram não existem nem existirão, porque nada na vida é perfeito.
Nós, seres humanos, é que fazemos a nossa própria perfeição, tal como dizia alguém, ‘se a vida te dá limões, faz uma limonada’… Mas eles não conseguem perceber, porque ainda não têm maturidade suficiente para compreender que há uma vida para além do que lhes é disponibilizado e que nem tudo o que vêem é real e perfeito.
E os pais no meio disto tudo, qual é o seu papel?
Os pais apenas tentaram dar o seu melhor e depois de estar tudo enraizado não conseguiram dar a volta à situação, até porque é mais fácil empurrar para os outros resolverem os seus problemas do que mudar a atitude, até porque mudar dá trabalho e não é confortável!
Dou Graças a Deus por já haver pais que tentam remar contra a maré da nova normalidade, que preferem educar crianças do que entregar essa tarefa às novas tecnologias.
É com poucos que começa a mudança, se cada um de nós fizer algo pelo próximo, já se faz muita coisa!
Espero realmente que a sociedade mude, mude a atitude para com as suas crianças, mude por um mundo melhor!
Porque afinal elas são o nosso futuro!