Uma vez responderam-me: ’Não gosto de regras!’
Não, não foram os meus filhos, que para eles as regras e limites são inatos, já estão bem enraizados e são tão normais como beber um copo de água!
Se bem que de vez em quando, ainda questionam porque tem que ser, mas aceitam e vivem naturalmente com eles.
Mas no caso do então adolescente e hoje adulto, que me disse que não gostava de regras e conhecendo o seu histórico e o seu estilo de vida, é perfeitamente normal que isso aconteça – as regras nunca foram impostas e nunca foi permitido que fossem.
Isto porque foi educado por pais separados, e parecia que havia uma competição entre ambos, se por um lado a mãe não queria que o filho se sentisse infeliz, acabava por lhe fazer todas as vontades, isto é, os desejos do petiz eram ordens, custasse o que custasse, mesmo que magoasse terceiros.
Já o pai, quando estava com ele (fim de semana de 15 em 15 dias) tentava incutir algumas regras, pois havia mais filhos e não se pode exigir a uns e permitir tudo ao outro, o que fez com que a criança não quisesse estar mais com o pai e com a família paterna, porque era obrigado a ter regras.
E passou-se então à alienação parental. O menino não queria ir para o pai e a mãe não explicava que era importante também estar com o progenitor, não permitindo que o menor fosse para casa do pai e, se este quisesse estar com o filho tinha que ser na presença dela.
Mas foi passando sempre ao lado para não magoar a criança, hoje um adulto, sem regras, que ignora o pai, só liga ou aparece quando necessita de alguma coisa.
Pelo meio e muitas queixas depois, de muitas pessoas que passaram na sua vida, as consequências da infelicidade da então criança, permitiram que se tornasse um adulto desregrado e infeliz, que acredita piamente na mentira que vive e transmite aos outros uma ilusão de vida, que só existe na sua cabeça e tenta arrastar todos os outros para ela.
Neste caso concreto, quero acreditar que vive apenas na ilusão da própria mentira, que já é mau quanto baste.
Há outros casos que se arrastam para outras vidas ainda mais complicadas de delinquência.
As regras e limites por muito chatos que sejam, se forem impostos desde sempre, são como o aconchego de um colo, em que há limites e esse limites são o que irão preparar a criança para viver em sociedade, tal como falei no artigo do NÃO, a nossa liberdade termina quando começa a liberdade do outro, temos que aprender os limites para não magoar ninguém à nossa volta.
Também as regras e os limites na infância, preparam um futuro sem grandes sobressaltos em termos de adaptação ao mundo, quer seja na escola, no trabalho ou até nas relações com os pares. Chegando a ser reconfortante para as crianças, por muito estranho que possa parecer, permite-lhes saber até onde podem ir sem se magoarem e acima de tudo está ali alguém que se preocupa com eles…
Ao promover uma educação com regras e limites, os pais estão a contribuir para o desenvolvimento de competências sociais nas suas crianças tais como o autocontrolo, a empatia, a capacidade de atenção e o planeamento das suas ações.
Se as crianças não forem impulsivas e tiverem a capacidade e discernimento de pensar antes de agir, vai prevenir muitos dissabores no futuro.
Mas, isto vai-se trabalhando desde sempre, desde o nascimento, há regras que devem ser incutidas para poderem ser aceites e tornarem-se naturais e intrínsecas.
Muitas das regras e limites são impostos pela sociedade em que estamos inseridos, mas também existem as regras e limites familiares e estes devem ser conversados entre os progenitores para mais facilmente serem cumpridos e se fazerem cumprir.
Dá trabalho?
Sim muito! Muita dor de cabeça aos pais, muita persistência e resiliência e capacidade de aceitação e também de argumentação, porque muitas vezes é necessário explicar o porquê dos porquês mil e uma vezes, e mesmo assim às vezes ainda é pouco!
Quando pensamos que está tudo muito bem assimilado, lá vem mais uma vez, porque é que não posso?
Como o meu filho mais velho, agora com 19 anos e, no dia que tirou a carta (há cerca de 3 meses), disse-me que queria ir ter com os amigos à faculdade e levar o carro. Anteriormente já lhe tinha dito que mesmo tirando a carta nos primeiros dias convinha adaptar-se ao carro que iria conduzir e ele aceitou muito bem!
Mas no dia… Tcharammm! Assim que chegou ao pé de mim, disse-me:
‘Vou ter com os meus colegas!’
Ao que lhe respondi:
‘Não, não vais! Já tinha conversado contigo acerca disso. Principalmente a esta hora com o trânsito que está e sem conheceres o carro é desastre na certa! Não me digas que queres ficar sem a carta em menos de 24h? Vamos dar uma volta, vais tu a conduzir sim, mas eu vou contigo e depois dizes-me se estás preparado. Tens o resto do tempo para lhes mostrares que podes e sabes conduzir.’
Resumindo muito a história, depois de 1h a conduzir, disse-me que afinal tinha razão e que foi bom não ter ido.
Eu compreendi o lado dele, é mais um marco na sua independência e queria mostrá-lo aos amigos, mas era uma coisa na qual eu não poderia ceder e posso dizer à boca cheia que me custou deveras!
E sim, nem sempre podemos negociar ou ceder nas regras e limites que incutimos, se sabemos à partida que podem colocar em causa a sua integridade.
Existem exceções. E essas exceções devem ser muito bem explicadas e a criança deve perceber o porquê dos mesmos. Mas uma exceção é quase única e exclusiva, senão passa a ser regra.
Também não devemos ter regras e limites diferentes para os nossos filhos, senão isso acaba por gerar rivalidade e incompreensão.
Se por vezes, sem haver distinções, já existem aqueles comentários de que o mano é o preferido, então havendo regras diferentes, é o descalabro total!
Na minha perspetiva, o amor, o diálogo, a compreensão, a aceitação e as regras são os ingredientes de uma receita infalível para educar seres humanos tranquilos, responsáveis e que saibam respeitar o próximo.