Certa vez numa aula na faculdade, a professora disse-nos em jeito de provocação que os pais podem fazer dos filhos o que quiserem, tanto podíamos educar um príncipe ou um assassino!
Confesso que fiquei bastante inquietada com a afirmação e desde então que tem acompanhado os meus pensamentos.
Foi necessário ser mãe para compreender finalmente essa afirmação…
Se estivéssemos presentes, tínhamos o príncipe. Se negligenciássemos teríamos o assassino (isto de forma muito leviana, claro)! A partir daí, tentei dar o meu melhor e orientá-los e apoiá-los o melhor que sabia e podia.
Respeitando sempre a sua natureza e transmitindo os valores que considero essenciais, tanto para serem felizes como conseguirem viver em sociedade da melhor forma.
Incentivei-os desde sempre a ser e fazer o que os fizesse feliz, desde que não colocassem em causa a sua integridade ou a de quem os rodeava.
Desde que tivessem objetivos bem definidos e trabalhassem para isso, sempre com apoio incondicional, conseguiam alcançar os seus sonhos e objetivos de vida.
E até ver, em relação a tudo o que se propõem, conseguem alcançar, mas nada acontece sem trabalho, empenho, muito esforço pessoal e por vezes com bastantes cedências e desistências do que lhes apetece no imediato, mas que precisam de abdicar nesse instante pelo bem desse objetivo.
E quando atingem o objetivo que almejam, ainda arranjam outros objetivos com uma fasquia mais elevada para ver se conseguem superar.
Estão em constante superação, o que me orgulha deveras.
Mas nem sempre é assim!
Também têm os seus momentos em que não lhes apetece nada e os objetivos diários ficam ‘colados ao teto’ que não estão nem para aí virados, é normal!
Talvez porque se calhar não estava alinhado com os quereres momentâneos ou não fossem os seus objetivos, talvez os meus… como por exemplo, fazer a cama de manhã! Um objetivo que quase nunca é cumprido (só se me chatear e exigir que o façam), porque não lhes interessa minimamente 🙂 apenas a mim!
Todos temos os nossos momentos de procrastinação, que também são necessários e tão bons, tudo faz falta na vida, desde que bem gerido e bem doseado.
Pela minha experiência como mãe e como profissional, percebi que as crianças que acompanhei, preferem o prazer e necessidades imediatas a objetivos a médio e longo prazo, não se preocupando com o que devem semear para colher no futuro.
Mas se o objetivo tiver uma motivação interna muito forte, é mais fácil de ser cumprido e seguido à risca!
Se pensarmos que os objetivos podem ser a curto, médio e/ou longo prazo, temos uma panóplia grande de opções e de objetivos a ter em consideração, desde uma tarefa que têm que completar para ‘ontem’ ou até mesmo o que querem atingir e não é tão imediato!
Nos dias de hoje, torna-se muito mais importante o agora, mas como não poderia ser assim? É o que a sociedade incute!
Tudo é instantâneo e momentâneo… O que é agora importante, deixa de o ser momentos depois, tudo depende de quem nos rodeia e das suas vontades.
A influência que os outros exercem nos nossos filhos e o medo de não ser aceite faz com que as vontades ou objetivos que tinham se desvaneçam, e a máxima urgência, importância e prioridades sejam as dos outros. Isto assusta-me!
Nestas situações, os pais têm um pouco de responsabilidade, pois muitas vezes permitem que aconteça, porque também eles próprios o fazem, mais uma vez, o exemplo é rei!
Voltando ao ser o que se quiser… Muitas vezes nas nossas infindáveis conversas, sem eles se aperceberem, questiono os meus filhos sobre os seus gostos, vontades e motivações para a vida. E eles lá vão respondendo, muitas vezes em jeito de parvoeira, mas também muito a sério, é preciso ‘ler’ as entrelinhas e lá vou percebendo as suas motivações.
Já lhes disse em jeito de brincadeira que não nos devemos deixar influenciar por quem nem é assim tão ‘amigo’ e não devemos andar em manada se não nos fizer sentido!
Digo-lhes muitas vezes, que os verdadeiros amigos estão lá para o bem e para o mal, e na maioria das vezes contam-se pelos dedos duma mão e, por vezes, ainda sobram dedos.
Há muitas pessoas conhecidas, mas daí a ser amigas há uma grande diferença e é necessário haver muitas vivências conjuntas para chegar a esse patamar!
Sempre trabalhei muito a autoestima dos meus filhos, sempre lhes disse que eles eram especiais (afinal não são todos?). Cada um à sua maneira, são seres únicos, perfeitos nas suas imperfeições e que se devem aceitar tal como são e a partir daí a jornada para atingir o objetivo torna-se mais viável e real.
Não os comparo, nem entre eles nem tão pouco com os outros colegas. Só em jeito de brincadeira, mas muito a sério, é que lhes digo que nos devemos reger pelos exemplos que realmente se aproximam com o que almejamos atingir, de resto não há comparações possíveis! Porque nem as vivências são as mesmas, nem as experiências de vida, como é que podem ser o que os outros são ou ter o que os outros têm?
Sempre tive em consideração o que gostavam, as suas necessidades e incentivei desde sempre a fazer as próprias escolhas.
Desde pequenos que lhes peço para escolherem até a própria roupa, por exemplo, não escolherem o que está no guarda-roupa, mas entre 2 peças. Estas pequenas escolhas, vão permitir que eles vão tendo as suas preferências, vão conseguindo optar por outras situações e não se tornem tão indecisos nem tão inseguros nas suas escolhas. E isso, consequentemente vai ajudar a melhorar a autoestima, porque as crianças acabam por sentir que confiam nas suas opções e que as apoiam.
Conforme vão crescendo também é importante que lhes seja solicitada opinião de decisões familiares, afinal as suas opiniões contam e muito! O que faz com que se sintam incluídos e inseridos na família.
Quanto maior a sua autoestima, melhor e mais conscientes serão as suas opções de vida! E a possibilidade de ser quem eles querem realmente ser, é mais real e apoiada por quem sempre esteve lá com eles e os apoiou incondicionalmente!
Por isso digo sempre aos meus filhos: ‘Voa e sê o que quiseres!’