Não tive apenas 1, mas 2 filhos a sofrer de bullying.
Nunca pensei que pudesse acontecer com algum deles, mas a verdade é que sim.
Em casa sempre foram miúdos tão descontraídos, felizes, extrovertidos e conversadores, nunca me passou pela cabeça que nos vinha parar à porta.
Mas para contextualizar mais vale começar mesmo pelo princípio:
Os meus filhos estiveram numa escola primária muito pequenina, mesmo de aldeia, em que ainda se lecionam 2 anos distintos na mesma sala com a mesma professora, era tudo muito familiar e as crianças bastante protegidas.
Posso dizer que no nosso caso foi muito mesmo muito benéfico, pois a professora (foi a mesma para os 2) sempre soube colmatar todas as lacunas que pudessem existir e saciar a curiosidade do porquê dos porquês de cada um, bem como espicaçar a curiosidade para outras tantas coisas!
Por isso, como sempre pertenceram a uma escola de ambiente familiar, quando chegaram ao 2º ciclo talvez não estivessem tão preparados, não a nível de aprendizagens, mas pela imensidão de crianças que frequentavam a escola.
Ora se estavam numa escola com cerca de 30 crianças, entraram na arena dos leões onde apenas uma turma tinha a quantidade de crianças que a sua escolinha anterior tinha, o que traz uma diferença abismal na socialização.
Enquanto na escola primária havia um ambiente de proteção, entreajuda e onde todos tinham o seu papel crucial e imprescindível, no 2º ciclo eram apenas mais um no meio de tantos, eram todos colocados no mesmo saco e apenas com o passar do tempo é que se iam destacando!
Mas se esse destacar a nível académico era confortável, a nível de socialização era terrível! Pois os alunos mais calmos e com boas notas acabavam por ser o saco de pancada dos outros que sentiam a frustração de não conseguir alcançar os objetivos escolares.
Mas aqui, mais uma vez, continuo a afirmar que vem tudo de casa, se os miúdos tiverem apoio e atenção e se sentirem amados e cuidados, sentem-se mais autoconfiantes em todos os aspetos, incluindo nas aprendizagens escolares.
Sempre ouvi dizer toda a minha vida que não é difícil criar um filho, difícil é educá-lo!
Ora se uma criança se sente sozinha, em casa ao abandono, não tem acompanhamento por parte dos pais e é apenas criada e não educada, ela entra em autogestão e não consegue compreender a diferença entre o bem e o mal.
Tanto faz portarem-se bem como se portarem mal, e como as asneiras são quase sempre uma chamada de atenção, continuam com esse comportamento como se fosse um pedido de ajuda. E depois também há aqueles que se deixam influenciar para se sentirem integrados, não se importam também por maltratar quem não merece.
Quem sofre, são sempre os colegas que são mais coerentes no seu comportamento, acabam por ser o saco de pancada desses meninos que se sentem abandonados pelos próprios pais e que gostariam de ter a sua vida, apenas por terem o que lhes faz falta – atenção!
Não quero com isto dizer que os pais não se preocupam com os filhos, nem pensar, não sou ninguém para fazer julgamentos de valor.
Apenas não se sentem disponíveis emocionalmente para lhes dar o amor e atenção necessária, para o saudável crescimento dos seus filhos, seja por que motivo for.
As agressões aos meus filhos ‘apenas’ aconteceram no 5º e 6º ano. Até mudarem de turma na entrada do 3º ciclo.
Ao meu filho mais velho, começaram por ser colegas da mesma turma que lhe faziam esperas no portão quando ele chegava, rodeavam-no e encaminhavam para um sítio mais escondido e desde apertarem os braços até apertarem o pescoço, a pontapés e enxovalhar gratuitamente sem motivo aparente…
Quando eu os via ir com ele, no início pensava quer o meu filho estava bem integrado e que os colegas estavam à sua espera para irem brincar ou jogar a qualquer coisa antes das aulas começarem.
Até começar a notar um comportamento diferente no meu filho, a não querer ir para a escola, ficar mais fechado na sua concha, embirrar com o irmão só pelo respirar ou pela própria existência, tornar-se mais agressivo.
Aí, fiquei em alerta máximo! Mas até então ele passou um mau bocado ☹
Dou graças a Deus por termos uma relação de confiança e depois de algumas conversas e tentativas para tentar perceber o que se passava, ele lá contou, mas cheio de receio, pois ameaçavam-no de que se ele falasse iria ser bem pior.
Depois de várias reuniões com o diretor de turma, os meninos foram ‘castigados’, mas nunca houve conversa com os pais e o comportamento só se agravava.
Até que um dia, desesperada, ‘passei-me’ e quando o meu filho ia entrar na escola e os meninos estavam à sua espera, fui de fininho, sem o meu rapaz se aperceber e chamei um dos rapazes, depois os outros 2 e em conjunto, com a pior cara de má que sabia fazer e com o dedo em riste, disse-lhes nos olhos, que estava na altura da brincadeira acabar, que sabia de tudo.
Sabia quem eram os pais e encarregados de educação e que não lhes admitia mais nenhum toque ou maltrato ao meu filho!
Que se acontecesse mais alguma coisa, eu mesma lhes fazia um por um o que eles tinham feito ao meu filho!!! Sei que não o devia ter feito, mas o desespero era tanto!!!
E era só da boca para fora, mais depressa ia falar com os pais do que lhes tocar num fio de cabelo que fosse.
Foi remédio santo, ficaram calminhos… Até se queriam tornar os melhores amigos do meu filho, inacreditável!
Uns anos mais tarde, calhou em conversa com a mãe de um deles o que se passou e ela ficou incrédula com a atitude do filho, não o reconhecia naquelas atitudes…
Com o mais novo, aconteceu a mesma coisa, mudaram apenas os nomes e as histórias de quem o fazia, mas o princípio era sempre o mesmo, maus tratos constantes e chegaram ao ponto de o isolarem do resto da turma e ser achincalhado por todos os colegas e estar sempre sozinho nos intervalos.
Chegou ao ridículo dos miúdos irem para casa e fazerem queixa aos pais, de que o meu filho era o menino preferido da professora de música, o que se esqueciam de contar era o comportamento deles em sala de aula.
Os pais, numa reunião de final de período foram fazer queixa à diretora de turma de que o meu filho era o preferido da professora de música e que a professora o elogiava e aos outros não, eu caladinha, porque ninguém sabia quem eu era, entrei em erupção!
Mais uma vez, pelo meu filho e pela falta de respeito que ali havia, virei bicho… Virei-me para trás e perguntei à senhora se ela se sentia confortável se eu dissesse à boca cheia que o filho dela era o melhor a educação física porque ele jogava futebol em atividades extracurriculares e o meu filho não era tão bom.
Vomitei tudo o que estava atravessado!
Desde a forma como o filho dela tratava o meu e como tinha colocado todos contra o meu filho e pela mesquinhez da atitude de se sentir frustrado por não atingir os objetivos escolares. Falei-lhe também que há opções na vida que se fazem, eu não queria que o meu filho fosse um Cristiano Ronaldo, apenas queria que ele fosse feliz!
Ele gostava de música e foi para música para a música desde os 4 anos, e ninguém tinha o direito de questionar essa situação, mesmo que isso influenciasse os resultados escolares, tal como eu não tinha o direito de questionar fosse o que fosse pelas opções dos pais para as atividades dos seus filhos.
A conversa ficou por ali, pedi desculpa à diretora de turma por ter desviado a atenção da reunião, mas foi um alerta para os pais que ali estavam, não mudou muita coisa desde aquela altura, apenas acalmou um pouco.
Foram tempos difíceis, os colegas isolaram-no durante 2 anos, trabalhos de grupo eram feitos apenas por ele, ninguém o escolhia para um grupo, chegava a haver grupos de números ímpares para ninguém se juntar a ele, a educação física também ninguém o escolhia…
Enfim, já passou, mas deixou mazelas! Tal como um papel que é amarrotado, mesmo que se estique e alise, nunca mais fica como antes, fica para sempre com os vincos… assim é como as crianças que sofrem de bullying, ficam com marcas para todo o sempre!
Graças a Deus que no 3º ciclo também mudou de turma e a diretora de turma estava atenta para a situação desde o início e tudo correu mais ou menos bem, era uma turma mais coesa e os alunos mais unidos e ele finalmente sentiu-se integrado, mas sempre muito alerta e desconfiado do que poderia acontecer.
Em jeito de conclusão, vejo que os meus filhos ficaram afetados psicologicamente, a sua inocência perdeu-se e ficaram mais reativos em algumas situações, têm que ser ainda muito trabalhados, apesar de já terem passado alguns anos.
Muitas conversas acontecem pela noite dentro, para tentar colmatar estas situações, porque para estragar um castelo, basta um momento, mas reconstruí-lo é mais moroso e complexo.
Relativamente a estes meninos, percebi que a maioria deles pertencia a famílias disfuncionais e também eles eram vítimas do ambiente em que estavam integradas, os outros, eram apenas influenciados para se sentirem aceites por quem mais sofria, porque talvez também eles sofressem.
Mas caramba, os meus filhos, crianças felizes, não precisavam de se tornar crianças amedrontadas por quem era infeliz e não sabia lidar com a felicidade!