Desde sempre conhecemos e ouvimos esta palavra, está intrínseca na nossa vida!
Sou um bocado chata com os ‘NÃO’. Não é que não goste que me digam NÃO, o que não gosto é que me digam NÃO sem explicar porquê.
Quando digo NÃO aos meus filhos, vem atrelada a essa palavra o seu porquê, mesmo que breve, mas não fica sem explicação.
Se estou muito exausta e não me apetece explicar, vem sempre a voz do outro lado, ‘Porque NÃO, não é resposta!’, claro que têm razão! Porque NÃO, não é resposta para ninguém.
Respiro fundo e mesmo sem paciência explico o melhor que posso e sei naquele momento.
Se peço alguma coisa e me respondem NÃO, também exijo o que lhes dou, uma explicação válida para esse NÃO.
Estas situações são bastante viáveis, pois ajuda-nos a fundamentar ideias e decisões. E têm um papel fundamental na tolerância à frustração.
Nos dias de hoje esse problema existe com muita frequência. Quase ninguém aceita um NÃO! Porque o mais importante é a satisfação pessoal e momentânea.
Para mim, o NÃO tem sempre em consideração o respeito pelo próximo e o respeito por nós mesmos.
O respeito também está relacionado com a liberdade, não temos legitimidade de fazer ou dizer o que queremos, sem ter em consideração o outro, a empatia é tudo nestas situações.
É importante perceber o que o outro sente e pensa!
Sempre me regi pela máxima: ‘A minha liberdade termina onde começa a liberdade do outro!’, assim a minha vontade ou a vontade dos meus filhos não se pode sobrepor à de qualquer outra pessoa.
Quando digo que quase ninguém aceita um NÃO, quero com isto dizer que ninguém ou quase ninguém está habituado a ser contrariado. Porque contrariar dá trabalho, dores de cabeça e muitas birras pelo meio.
E os pais, acabam por fazer as vontades só para não ter que passar por momentos constrangedores, porque os dias já são tão complexos e exigentes que quando se chega a casa, ao nosso cantinho, ao nosso espaço, à nossa bolha, a única coisa que se pretende é não ter mais dores de cabeça.
Acaba por se permitir tudo aos benjamins, porque já tiveram também eles regras e um dia comprido de aprendizagens (incluindo brincadeira, porque brincar também é aprender!) na escola e coitadinhos dos meninos também precisam de descomprimir!
Mas na verdade, é que ao não haver regras em casa e se não houver coerência entre casa-escola, as crianças acabam por andar baralhadas, sim porque as crianças não nascem ensinadas como muita gente diz! Elas precisam ser orientadas por quem mais os ama, os pais!
A escola é um complemento de casa, porque a educação tem que vir sempre de casa, na escola existem as aprendizagens académicas e algumas experiências de vida que irão complementar a educação base.
Já me aconteceu dizer NÃO e explicar porquê, mas passado um tempo, lá vem o mesmo pedido ou um pedido semelhante à espera de um sim, mas como sou muito persistente e teimosa e nem sempre me esqueço de algumas situações, o meu NÃO de ontem, será o mesmo de hoje e o mesmo de amanhã.
Quando me pedem para ver desenhos animados ao pequeno-almoço num dia de semana em que o tempo está contado e é tudo a correr, em que eles se desconcentram no essencial e concentram-se na televisão, óbvio que a resposta é NÃO.
Mas no dia seguinte vem a mesma demanda, e no outro e no outro…, aí a vontade de explicar o porquê é nula, quase como uma recusa, porque ninguém gosta de repetir o mesmo vezes sem conta! Mas eles vão sempre testanto à espera de uma resposta positiva.
Mas se for ao fim de semana, em que até há tempo, claro que podem haver cedências, a não ser que haja alguma regra instituída em casa, em que não se vê televisão às refeições.
Também existe o NÃO em que, não pode haver cedências, o NÃO é intransponível, como é o caso de tomas de medicação ou não levar o casaco para a rua em dias de frio, tal como o guarda-chuva quando chove.
Os NÃO são imprescindíveis nas aprendizagens. Uma história que nem eu nem o meu benjamim (na altura com 6 anos), nos iremos esquecer e de vez em quando ainda falamos disso, foi a que aconteceu numa bela manhã ensolarada de inverno, estávamos no carro à espera que abrissem a escola e por muito pouco tempo que ali estivéssemos, a cabeça daquele rapaz só pensava em asneirolas, ele sempre foi muito irrequieto e sedento de inventar.
Olhou para o isqueiro do carro e perguntou o que era aquilo, expliquei o que era, como funcionava e para o que servia e que só tinha uma utilidade, acender cigarros! Ele perguntou se podia premir o isqueiro, mas já estava a fazê-lo, enquanto perguntava. Depois do isqueiro ‘saltar’, retirou e viu que aquilo tinha muitos círculos laranja apetitosos ao toque (estava quente, muito quente), e todo lampeiro estava a começar a pôr o dedo. Avisei-o que NÃO podia colocar lá o dedo, porque se ia queimar a sério e depois ia cheirar a ‘leitãozinho queimado’, que ia doer muito, não ia conseguir escrever, blá, blá, blá… Resumindo muito a história… mesmo tendo explicado tudo, ele colocou o dedo! Segundo ele, julgava que eu o estava a enganar. Resultado! Um dedo queimado, muita choradeira e muito cheiro a carne fresca queimada. Como ele ainda hoje diz, fez tzzz…
A conclusão desta história leva-me a crer que mesmo tendo dito NÃO e este não ter sido respeitado, muitas vezes é necessário passar por determinadas experiências, mesmo que alguém tivesse dito antes NÃO e explicado. A teimosia e o livre arbítrio levam a determinadas escolhas que são essenciais nas aprendizagens futuras e que só por esse aspeto permitirão que não volte a acontecer.
Além de ser muito teimoso e por vezes não respeitar os NÃO, também é um rapazola NÃO. A cada solicitação, a resposta sempre foi NÃO, o que por vezes me irritava deveras! Até perceber que esse NÃO era só para me aborrecer, contrariar e testar, só porque achava engraçado! Porque estava a dizer NÃO, mas acabava por fazer o que lhe pedia.
Agora já nem ouço o NÃO, porque sei como ele é! 😊
Depois existe uma outra vertente do NÃO a que nós pais devemos estar atentos. Solicitar alguma coisa, que pode ir contra os princípios da criança, formas de pensar e estar até mesmo de gostos pessoais, e aí quando o NÃO é consistente e se sabe à partida que é uma situação que não toleram, também se deve aprender a respeitar e não exigir, recuar no pedido.
Como por exemplo dar um beijo a uma pessoa que acabou de ver pela primeira vez ou até mesmo a alguém próximo. Mesmo que isso implique a outra pessoa ficar melindrada, é importante não forçar, pois pode levar a comportamentos mais disruptivos na criança, pois a sua posição não foi respeitada. É necessário saber ceder em algumas situações, ser moldável e não intransigentes, porque na viagem da parentalidade o bom senso impera sempre, e o que funciona na minha família, pode não funcionar noutra.