Não sei se é cultural ou genético. Já eu também o fazia à minha mãe, tudo era mais importante do que dar-lhe uma mãozinha quando ela precisava.
Mas o universo é sábio!!! Fez-me aprender a dobrar! Não tenho 1, mas 2 a responder-me a mesma coisa cada vez que lhes peço ajuda para alguma tarefa na qual eles não têm qualquer interesse.
‘Meninos, preciso que me ajudem a pôr a mesa, por favor!’, ouço em uníssono ‘Já vouuuu’, passados 5 minutos, volto a chamar e a resposta é a ‘ já estou a ir!’, mas nunca mais aparecem.
Zangada vou até ao fundo da escada e lá começo o desenrolar o rosário… ‘Não sou vossa criada, temos todos que participar, não consigo chegar a todo o lado sozinha, o jantar está feito e a mesa ainda não está posta …’
Começam os 2 a descer a escada muito chateados e em modo de reclamação, já tínhamos dito que estavamos a vir… estavamos só a acabar uma coisa!
O que eles se esquecem é que desde muito pequenos (a partir dos 2 anos) todos devem partilhar as tarefas de casa de acordo com a faixa etária em que se encontram, não quer com isto dizer que eles devem fazer tudo, não! Eles não são os empregados da casa e o seu tempo de descanso e lazer deve ser respeitado.
Mas se sujam, devem limpar! Se desarrumam, devem arrumar! A cama, também podem fazer! Colocar a mesa? Nem se questiona!
São pequenas tarefas, mas importantes, que a nós pais facilita imenso, mas que a eles também lhes transmite a noção de cooperação, responsabilidade, independência até mesmo na questão da autoestima. Além de que é importante também para valorizarem o trabalho dos outros.
Mesmo que não fique tão bem feito e demore mais tempo, não faz mal! Mais vale mal feito do que não estar feito. E nunca desmanchar o que a criança fez! Porquê? Porque se assim for, ela nunca mais vai querer fazer de novo, pois acha que não tem capacidade para nada!
Com isto não devemos dizer nada se estiver mal feito? Claro que sim, mas sem minimizar o trabalho feito, sempre de forma construtiva para que se sinta incentivada a fazer melhor da próxima vez.
Claro que é uma tarefa complicada, pois eles nem sempre querem ajudar, mas é importante não desistir! Sei bem que por vezes é mais fácil fazermos nós do que nos estarmos a enervar com o ‘Já vou’ mas é importante ser resiliente, pois não lhes estamos a fazer qualquer mal, apenas a prepará-los para o futuro.
Costumo dizer muitas vezes aos meus filhos: ‘Como vai ser quando fores para a tua casa? Vais esperar que sejam os outros a fazer por ti? Nunca te esqueças que se não sabes fazer, não consegues dizer como queres! E se viveres sozinho? Vais deixar a porcaria chegar ao teto?’
Sei que sou muito chata e pica-miolos, mas eles devem interiorizar esta questão até entrar em piloto automático, pois também não quero estar a educar preguiçosos, mas sim educar para seres humanos responsáveis.
Inicialmente, deve-se pelo menos tentar que a tarefa seja desafiadora e divertida, por exemplo: ‘ajudas a mamã a pôr a mesa? Eu vou buscar os pratos e os copos e tu vais buscar os guardanapos, pode ser? Vamos separar a roupa por cores?…’ Com o passar do tempo, prometo que eles só reclamam caso estejam a fazer alguma coisa bem mais aliciante!
Há quem defenda que as tarefas devem ser recompensadas, eu não acho que se deva fazer! Todos vivemos na mesma casa, todos utilizamos e desarrumamos, todos sujamos, todos devemos participar na árdua tarefa que é manter a casa habitável e em condições de salubridade!
A melhor forma de reconhecer o esforço é verbalmente. Parabenizá-los, agradecer-lhes, de forma a que se sintam incentivados a continuar.
E se falhar? Não faz mal, é importante reconhecer o esforço que a criança teve ao fazer a tarefa!
E se falhou de propósito? Foi mais reguilota e só para chatear e não ser chateada fez mal de propósito, sempre a despachar?
Também já me aconteceu! Resultado, fui ainda mais chata! Também fui castigada e tive de ficar de plantão, mas a tarefa foi terminada, com muito jogo de cintura de forma a que a minha cria conseguisse terminar a tarefa de fazer a cama, bem esticadinha!
Costumo dizer que a minha paciência é elástica e por norma não costumo desistir facilmente, mas às vezes o cansaço mental é tanto que não apetece ouvir birras e os famosos ‘ estou a ir’ e nessas situações confesso que a minha sanidade mental é mais importante, porque sei que se estou mais chateada com alguma coisa posso descarregar em cima deles e nessas alturas, nada como minimizar as situações e faço eu!
Acreditem ou não, os rapazes quando isso acontece sabem que não é um bom dia e acabam por fazer as tarefas sem lhes pedir nada e pelo meio ainda há direito a palhaçadas até conseguirem arrancar um sorriso ou uma gargalhada! Neste momento, eles já são adolescentes e já têm um doutoramento em tarefas domésticas e numa mãe pica-miolos, sabem bem como lidar com estas situações, foi um percurso de aprendizagem tanto para eles como para mim.
Também há dias que não são tão bons para eles, não somos só nós que temos dias maus, eles também os têm!
Deve haver abertura e diálogo de forma a que eles digam o que os apoquenta e o que os magoou e aí nesses dias temos 2 opções ou eles estão connosco a conversar e a fazer as tarefas porque até os pode ajudar a desanuviar ou então se necessitarem de espaço podemos fazê-las nós. Há sempre exceções à regra.
Até lá continuamos com persistência na árdua tarefa da parentalidade, porque não conheço ninguém que diga que educar é fácil, sempre ouvi dizer que criar é fácil, mas educar é complicado!