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Parentalidade

Irmão mais velho!

Não sei o que é ser nem ter, sou filha única! Não por vontade dos meus pais, mas pelas vicissitudes da vida. Mas sempre soube, que se conseguisse e pudesse teria muitos filhos.

Assim que tive o primeiro, já estava com uma enorme vontade de ter o segundo. Mas depois do segundo, achei que se calhar já não tinha muita estaleca para ter mais, pois o marido trabalhava fora e só vinha ao fim de semana na maioria das vezes, então era uma missão complicada, principalmente sem rede de apoio.

Fiquei-me pelos dois!

Foi uma aventura quando descobri que estava grávida novamente, a primeira pessoa a saber mesmo antes do pai, foi o mano mais velho. Ainda era muito pequenino tinha 2 anos, mas já pressentia a responsabilidade do que era ser o irmão mais velho.

A responsabilidade não estava relacionada com o ter que ser ou fazer papel de pai, mas sim ter a responsabilidade de lhe ensinar tudo o que tinha aprendido até então, fossem coisas boas ou nem por isso! Abrir-lhe portas para novos mundos, pois são os irmãos mais velhos que na maioria das vezes desbravam caminhos para novas aventuras.

Como ainda era muito pequeno nem sabia muito bem o que era ter um mano, só sabia que vinha lá um bebé para ele poder brincar, mas ainda era muito novinho.

Ajudava-me muito durante a gravidez, gostava de colocar o creme e esfregar a barriga, dava beijinhos, cantava e falava para o bebé e dizia sempre que era um mano para brincar com os carrinhos.

Para lhe conseguir explicar que o mano ainda ia ser muito pequenino quando saísse da barriga e que só ia querer comer e dormir durante os primeiros tempos, dei-lhe um ovo acabado de sair do frigorífico e perguntei-lhe se o ovo era frágil ou não, ele disse que não sabia.

Então pedi-lhe que o deixasse cair. Quando o fez ficou incrédulo por ter partido o ovo, expliquei-lhe que era só para lhe mostrar que o bebé quando nascesse ia ser assim muito frágil, tínhamos que ter muito cuidado para que não se magoasse como aconteceu com o ovo…

Quando fiz a mala para a maternidade, também lhe pedi ajuda para escolher a primeira roupa para o mano, envolvi-o sempre em todas as atividades que pudesse para que se sentisse integrado e que tinha um papel importantíssimo. Ainda hoje tem! O irmão vê-o como um ídolo e respeita mais a palavra do mano mais velho do que dos restantes membros da família. E sim, trata-o por MANO desde sempre e de uma forma tão carinhosa como nunca pensei.

Quando o bebé nasceu, o mano mais velho foi visitá-lo à maternidade, lá estávamos à espera e ansiosos por ver a sua reação ao ver o bebé.

Não me ligou nenhuma! Só queria o mano, sentou-se na cadeira, como já tínhamos falado antes, que para pegar no bebé ao colo deveria estar sentado para não caírem os dois, e abriu os braços.

Demos-lhe o bebé, os olhos dele brilhavam mais que o sol, o sorriso não poderia ser mais rasgado, uma felicidade tamanha e eu claro com os olhos rasos de água a tentar conter a emoção. Uma imagem, que ainda nos dias de hoje, continua presente na minha memória, como se tivesse sido ontem e já lá vão 15 anos.

Quando fomos para casa o mano mais velho só queria o bebé, dormiam de mão dada e o pequeno calava-se ao colo do irmão e derretia-se cada vez que falava com ele, parecia que estávamos numa bolha de amor em que tudo corria bem.

Mas não se pense que foi sempre assim! Quando o mais pequeno começou a gatinhar e a andar, andava sempre atrás do irmão e queria tudo o que ele tinha depois, claro está, corria mal!

Quando o mais velho foi para o 1º ciclo e já tinha a responsabilidade de fazer os TPC, o irmão ainda continuava a brincar porque ainda estava no infantário, então era mais uma chatice e birras atrás de birras porque o mano estava a brincar e ele não podia.

E por sua vez o mais novo queria fazer o que o mais velho estava a fazer mas não podia, porque o mano não deixava e eram coisas de responsabilidade dele e o outro não podia mexer.

Ninguém entende. Preso por ter cão e preso por não ter!!! Podia muito bem aproveitar, deixava o mais novo fazer um desenho e estavam os 2 ocupados a trabalhar, mas enfim!

Começaram a aparecer os ciúmes normais da idade, e no início da adolescência do mais velho foi ainda mais agreste. Eu chegava a dizer-lhes que num futuro só podiam contar um com o outro em termos familiares, por isso era imprescindível que se dessem bem.

Como somos uma família pequena, tanto eu como o meu marido somos filhos únicos (qual a probabilidade de estas coisas acontecerem?). Não há primos direitos, apenas primos dos primos e da minha parte os primos são mais velhos e ainda não há crianças da geração dos meus filhos e da parte do pai os que existem são mais novos. 

Houve uma altura que desesperei tanto de os ver discutir que vim apanhar ar à rua e deixei-os em casa, quando ouviram a porta bater vieram à minha procura para perceber porque saí assim, disse-lhes então que não suportava ouvi-los discutir.

E nesse dia tive uma grande lição dos meus filhos, os irmãos são mesmo assim e é normal.

Mas como podia saber se sou filha única? Nunca tive ninguém com quem reclamar! Trocar galhardetes ou até mesmo coisas parvas.

Desde esse dia aprendi a acalmar e desvalorizar aquelas pequenas discussões.

Nos dias de hoje e até ver, penso que consegui um dos meus objetivos, que eles sejam unidos!

Ao ponto de fazerem panelinha, quando um faz asneira o outro encobre e protege, o que acho muito bem! E quando querem falar sem que ninguém perceba, dou com eles a conversar em inglês. Meus cromos bons!!!

Só espero que, a relação que construíram, por vezes tão atribulada se mantenha no futuro e que sejam sempre unidos e possam contar com a presença um do outro em todos os momentos, nos bons e nos menos bons!

E acima de tudo, possam transmitir esse legado aos seus filhos e sobrinhos, porque nessa altura já poderão haver primos direitos, se a vida o permitir claro e serem mais para partilhar a união e a sabedoria dos manos mais velhos!

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