No outro dia dei por mim a ouvir do meu marido: ’não sei o que queres mais, o que quiserem é só dizerem, que eu dou!’.
Passei-me com ele!… porque ele tem prioridades diferentes das minhas no que toca à família, eu priorizo a família e filhos, ele o trabalho! Porque acredita, que se lhes proporcionar mais bens materiais está a dar-lhes o melhor!
Nem todos somos iguais, e como tal devemos ser respeitados, mas quando há filhos, tem que haver bom senso. Eu também dou bastante importância ao trabalho e trabalho bastante, mas a minha prioridade sempre foi e sempre serão os rapazes, tenham eles que idade tiverem!
Lembro-me de quando o caçula nasceu, a minha mãe deixou o negócio dela, mesmo sabendo que iria ter prejuízo para me vir apoiar e ajudar, sendo eu já crescida! E sou tão grata por isso… Espero um dia poder retribuir e conseguir fazer aos meus filhos o que ela sempre fez por mim!
Deveria haver equilíbrio, sei que o meu marido não o faz por mal, foi assim que lhe foi incutido desde sempre e ele como boa pessoa que é, interiorizou o melhor que pode e tem dificuldade em demonstrar as suas emoções e dar a sua presença na plenitude.
A única coisa que me magoa nisto, é que para ele é mais fácil dar bens materiais do que atenção. E ninguém lhe exige ou pede seja o que for, mas ele é o primeiro a dar, quando acha que o deve fazer.
Costumo dizer-lhe, quando fico mais chateada, que eu e os miúdos só precisamos de uma coisa dele e não custa dinheiro – é a sua presença!
Às vezes parece cliché, mas não é, mas nós vivemos de memórias, não de bens materiais.
Os bens materiais desaparecem, deixam de existir e se for preciso nem nos lembramos deles no futuro, mas lembramo-nos sempre quem esteve connosco em determinada situação.
Os miúdos têm poucas memórias de infância com o pai, porque ele estava sempre fora, e quando estava presente, às vezes não conseguia compensar a ausência.
Para tentar compensar a sua ausência, tentei ser o máximo que pude, pai e mãe, mas às vezes era uma batalha insana, porque apesar de dar o meu melhor, faltava-lhes sempre um dos protagonistas mais importantes – o PAI!
Os rapazes até são miúdos bem resolvidos e não dão parte fraca nesse aspeto, mas depois, e há sempre um mas… Quando precisam de alguma coisa, ou têm algum problema, acabam por vir ter comigo para conversar e nem sequer ponderam conversar com o pai.
Custa-me, porque depois o pai diz que se sente à margem, e por muito que diga aos miúdos que é importante conversarem também com o pai, mas nenhum dos interveniente se sente confortável para tal (nem pai, nem filhos).
Se é duro? Muito! Então verbalizar, parece quase uma vergonha, porque ando eu a falar de parentalidade e do que é melhor para a criança e para os pais e em casa tenho esse défice!
Mas como tenho feito e dito sempre, o caminho faz-se caminhando e vou tentando limar as arestas da parentalidade da melhor forma que se consigo, o caminho é uma evolução constante e diária. Porque não há relacionamentos perfeitos, nem relações perfeitas, por isso, quando há alguma falha, deve-se tentar colmatar, principalmente quando há filhos envolvidos.
Os filhos não pedem para nascer, nós só temos que lhes dar e fazer o melhor que conseguimos de forma a que eles cresçam de forma saudável e confiante. Afinal deveria ser esse o papel dos pais.
Porque é que te conto isto? Porque nos dias que hoje correm, mostra-se muito o que não é e o que não existe, o que vês nas redes sociais são momentos e não refletem a realidade. Mostra-se uma perfeição superficial que está presa por arames que à mínima brisa desmorona-se como um castelo de cartas.
Nunca como nos dias de hoje se viveu de forma tão superficial, para mostrar à sociedade aquilo que se gostava de ser e que não existe e é isso que é transmitido às nossas crianças, a futilidade da vida.
Muitas vezes não sei muito bem o que postar, nem o que mostrar, porque a minha vida é tão banal, tão normal com tanta correria que penso que não sou nada instagramável, nem eu nem os miúdos e sinto-me uma aberração no meio de tanta postagem perfeita.
Assusta-me o que se transmite a esta nova geração, assusta-me o que as crianças vêem, assusta-me que as crianças não possam ser crianças, assusta-me o facto de exigirem às crianças o universo sem lhes darem o mínimo, assusta-me que as crianças tenham como exemplo irreal as redes sociais, videojogos e youtube. E que estejam sempre à espera daquilo que não existe e que não têm – a presença dos pais…
No nosso caso, acaba por ser a ausência do pai, mas também confesso, nos últimos anos tem sido mais presente, noto que há uma preocupação e um cuidado por melhorar. Mas isso não apaga a ausência que teve antes e os rapazes ainda se ressentem.
Não é porque um dos progenitores não está tão presente que as crianças não possam ser crescer de forma autónoma confiante e saudável, é preciso é que o outro progenitor consiga compensar e respeitar a criança. Esta compensação não e com bens materiais mas sim com amor incondicional, respeito, presença, empatia, …
Apesar de não ser o ideal, é possível e real, porque afinal de contas o mais importante são as nossas crianças!