Quantificar ou explicar o quanto amo os meus filhos… posso dizer que é missão impossível!
Não consigo fazê-lo…
A única coisa que consigo explicar é como apareceu o amotraçote nas nossas vidas e o quanto é importante para a nossa família e para o crescimento afetivo dos meus filhos.
Sempre demonstrámos muito carinho entre nós, já tive oportunidade de dizer o quão melosa sou, e pelos vistos os meus filhos nisso são iguais a mim!
Confirma-se que o exemplo prevalece!
Sempre deixámos bilhetinhos uns aos outros. Nos tempos de infantário eram desenhos, e a partir do 1º ciclo os bilhetes escritos eram uma constante.
Tenho tantos na carteira que nem fecha!
Um belo dia, em vez de lhes escrever num papel, escrevi nas costas da mão ‘Amo-te até ao infinito e mais além’ e dei a ler ao meu filho mais novo e ele na sua inocência leu literalmente o que lá estava ‘amo traço te’ e a partir daí, ficou para todo o sempre ‘amotraçote até ao infinito e mais além’.
O ‘infinito e mais além’ foi adotado do filme infantil Toy Story, para demonstrar que não tem fim.
Sempre achei imprescindível demonstrar os sentimentos que temos uns pelos outros, é importante saber que do outro lado, há alguém que sente alguma coisa por nós e, a vergonha de o demonstrar não deve existir.
Quanto mais emotivas são as pessoas, mais transparentes se tornam, no meu ponto de vista, mas também não há necessidade de ser uma drama queen!
Ora, se uma criança crescer com demonstrações de carinho, cresce mais autoconfiante nas suas relações, nos afetos, na sua segurança interior. Por isso, é imprescindível que os pais desde sempre demonstrem o que sentem pelos seus filhos.
Não é necessário estar sempre a dizer o mesmo, mas a criança percebe o que os pais sentem por si, através do toque, das brincadeiras, pelos olhares, na atenção despendida e na sua disponibilidade cada vez que é solicitada.
É importante que os pais tentem perceber o que a criança está a sentir ou até mesmo o porquê de determinada reação.
Tal como nós adultos, as crianças nem sempre têm dias fáceis ou dias simples, mesmo que pareça uma baboseira o que estou a dizer, a verdade é que as crianças são umas esponjas de sentimentos, atitudes e ações e, como não as sabem verbalizar, saltam as birras nos mais pequeninos, e nos mais crescidos as provocações constantes, embirrações ou asneirolas por nada ou até pelo próprio respirar… enfim isto é tudo menos linear.
E nós pais, devemos tentar compreender o que se passa, quer seja através da observação das brincadeiras, das conversas soltas ou das atitudes.
Não é à toa que se costuma dizer que descontamos sempre em cima de quem mais gostamos, pois é com essas pessoas que temos mais à vontade e achamos que não vão existir julgamentos.
Mas a verdade é que existem! Quantas vezes, dou por mim a pensar… ‘lá vem este outra vez com o mau feitio!’ mas depois paro, respiro fundo, envergonho-me do meu pensamento e tento compreender o que se passa.
Não quero com isto dizer, que aceito o mau feitio ou o que parece estar a ser um momento de má educação ou birrice.
Não! Apenas estou a tentar colocar-me no lugar dele e tentar perceber o que está a acontecer. E se não lhe digo nada no momento, é porque também lhe estou a dar espaço para ele assentar os seus pensamentos e tentar percecioná-los da melhor forma.
Se depois disso, ele quiser falar, estou lá com os ouvidos bem abertos e sem julgamentos de valor, porque se temos 2 ouvidos, 2 olhos e 1 boca é sinal de que devemos ouvir e ver mais do que falamos – a Natureza é sábia!
Mas nem sempre é fácil, porque assim que eles começam a falar, é quase certo e sabido que já tenho uma palavra na ponta da língua para saltar… Mas o meu dever é controlar-me e ouvir. E só no fim falar, caso me peçam a opinião. Quando não me pedem, dou na mesma!!!
Ainda tenho que trabalhar mais esta parte! Mas tento não fazer julgamentos de valor ou dar sermões tal como o irritante: ‘Eu bem te avisei!’.
Desta forma, eles sentem que têm alguém com disponibilidade para ouvir o que os moí, e têm um ombro para chorar ou um colo sempre disponível. E ficam menos à defesa cada vez que necessitam, porque sabem que está ali um porto de abrigo!
Ora se estamos sempre a refilar, a reclamar, a dar ordens, a mandar bitaites e o famoso ‘bem te avisei, mas nunca me dás ouvidos!’ e nunca houve disponibilidade para ouvir o: ‘mamã, olha aqui!’, ‘anda brincar comigo’, e por aí em diante.
Torna-se mais difícil a criança sentir que está ali um aliado e acaba por se fechar na sua concha, apesar de muitas vezes até parecerem crianças extremamente extrovertidas e bem-dispostas.
Se nunca houve essa tal disponibilidade por parte dos pais, muitas vezes a criança refugia-se nos de fora e muitas vezes, os de fora não são os melhores amigos ou conselheiros.
São sempre os que se irão aproveitar das fragilidades, porque também eles são frágeis e não têm quem lhes dê disponibilidade.
Assim, cria-se uma comunidade de crianças inseguras, imaturas emocionalmente e que têm medo da própria sombra, apesar de demonstrarem o contrário, mas é só mesmo aparência.
Sei também que os dias voam e o tempo é curto, saímos de casa a correr para levar os filhos à escola, com um beijo de fugida e quando é, e ao final do dia já atrasados para todas as mil e uma atividades e mais o jantar, os banhos e os tpc, não existe muito tempo para essa disponibilidade.
Mas também podemos aproveitar o tempo das viagens de carro para conversar, por exemplo, ou quando se está em casa e estamos mesmo muito atrapalhados a preparar o jantar, solicitar a ajuda da criança para podermos ter a companhia e o resto desenrola-se naturalmente.
A vida é bastante complexa e nas nossas correrias diárias ainda a tornamos mais complicada.
Há que tentar encontrar um meio-termo, e se for complicado, está na altura de parar, escutar o nosso coração, ouvir as nossas prioridades interiores e ponderar se realmente vale mesmo a pena os nossos filhos pagarem um preço tão elevado por não demonstrarmos o que sentimos por eles. Não é necessário deixar tudo para trás ou desistir da vida que temos.
Às vezes basta e pelo menos uma vez por dia dizer aos nossos filhos: ‘amotraçote até ao infinito e mais além!’