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Parentalidade

Acelero muito os meus filhos …

Estranho não é?

Não ando a correr atrás deles mas… a minha principal preocupação sempre foi e será a sua felicidade e que adquiram as ferramentas necessárias para serem independentes, conseguirem fazer o que gostam e ambicionam.

Mas esta história é muito ambígua, se por um lado almejo a independência e felicidade para terem a sua vida de ‘sonho’ em que olhem para o trabalho no futuro como um hobbie e consigam alcançar os seus objetivos. Também me deparo com a necessidade de lhes ‘dar asas’ para poderem voar, afinal ouvi toda a minha vida que os filhos são do mundo e não nossos, assim devemos dar-lhes formação numa língua universal – o inglês, para poderem ir para qualquer lado do mundo onde possam fazer o que realmente gostam. Mas com isso estou a ‘roubar-lhes’ tempo de procrastinação, aquele tempo em que não apetece fazer nada. São menos 2h semanais.

Depois também penso na sua segurança… e lá estou a colocá-los na natação pois ouvem-se tantas histórias de acidentes que acontecem nas praias e piscinas… e lá estou a tirar-lhes mais 1 hora semanal do seu tempo de descanso. E com isto vão 3!

Fora a música que eles tanto gostam e é um hobbie do qual não querem abdicar, em que são ocupadas pelo menos 2h de aulas semanais e mais o tempo que têm de estudar em casa, porque se um instrumento não é tocado diariamente, na aula seguinte tudo o que foi adquirido perde-se.

E com isto são mais 5 h ocupadas durante a semana, 20h por mês e, se a isto contabilizarmos 10 meses destas atividade serão 200h por ano roubadas ao descanso dos meus filhos, isto acrescido à atividade letiva, dá uma enormidade de tempo que eles estão ocupados.

Ora, se num dia de aulas têm uma média de 6h de atividades letivas, isto vezes 5 dias por semana, são 30h semanais mais as outras 5h de atividades extracurriculares é quase uma semana de trabalho das nossas.

Mas se somarmos isto aos trabalhos de casa enviados, a carga horária é excessiva, mas não se pense que não sou apologista de trabalhos de casa, porque sou! E em muitos casos é a única maneira das crianças poderem estudar diariamente para consolidar as matérias ministradas na escola.

Chego à conclusão que os meus filhos trabalham bem mais do que eu e que eles são uns heróis, os meus HERÓIS! Apesar de nunca contabilizar o trabalho de casa (preparação de refeições, quando necessário, arrumar, limpar o que sujam, etc.)

Com tudo isto andamos sempre a correr para a natação, para a música, para o inglês e eles muito resilientes lá vão, sempre a correr e eu sempre a acelerá-los.

E como andamos sempre a correr, acelerados, por vezes dou por mim a ralhar-lhes porque estamos atrasados e não devemos fazer esperar ninguém (regras da boa educação) e afinal a culpa não é deles, mas minha, apenas minha, porque tanto quero fazer-lhes o bem e dar-lhes asas para voar que nem me apercebo do tempo de qualidade que estamos a abdicar e deixá-los ser apenas crianças, e que já não são crianças, mas adolescentes.

Mas como cresceram nesta situação não conhecem outra realidade, para eles o que era normal serem crianças e jovens despreocupados, não acontece e são jovens acelerados que quando têm mais tempo livre se sentem estranhos por não terem nada para fazer.

Mas depois penso, se tivessem demasiado tempo livre acabavam por não ter objetivos de vida e estavam mergulhados nos jogos, vídeos de youtube ou até mesmo a deambular pelas ruas perdidos e sem sentido de vida. E porque também não lhes poderia proporcionar tempo de qualidade, pois não poderia estar com eles e não poderíamos partilhar brincadeiras, parvoeiras próprias entre pais e filhos que são tão saudáveis. Por isso dou por mim a pensar no pouco tempo que tenho com eles, que apesar de ser pouco é de qualidade.

Mas verdade seja dita, estas atividades sempre bem pensadas e ponderadas, não lhes retiram apenas tempo, acabam por lhes dar outras competências que serão muito importantes para as suas vidas futuras, tais como: espírito e trabalho de equipa, resiliência, persistência, resistência, capacidade de concentração, coordenação, espírito crítico, respeito pelo próximo, capacidade de organização e gestão do tempo e por aí em diante… Qualidades importantes e necessárias!

Espaço para estarem com amigos? Claro que sim, porque tudo bem gerido há sempre tempo. Ouvi uma vez a história de um professor de filosofia que achei tão interessante, verdadeira e deliciosa!

Começou por explicar aos seus alunos a questão do tempo e como ter uma vida feliz. Tirou um boião da sua mala ao mesmo tempo que explicava que temos apenas uma vida e que devemos saber vivê-la, pois temos capacidade de realizar tudo o que queremos desde que utilizemos o tempo com sabedoria.

Encheu o boião com bolas de golfe e perguntou aos seus alunos se o frasco estava cheio, ao que estes anuíram, sem se preocupar muito com as respostas, colocou pedrinhas no mesmo frasco e perguntou novamente se já estava cheio, os alunos continuaram a dizer que sim e, continuou a surpreendê-los ao colocar areia da praia no dito frasco, finalizando com uma cerveja também dentro do boião.

Conclusão e moral da história: O boião representa a vida, as bolas de golfe, a família, amigos, saúde e paixões; as pedrinhas, o carro, o trabalho, a casa. A areia, todas as coisas pequenas, supérfluas e insignificantes.

E se colocássemos a areia primeiro? Não haveria espaço para as bolas ou as pedras e se gastarmos energias e tempo com coisas pequenas não haverá tempo para as coisas importantes da vida.

É de extrema importância saber as prioridades para atingirmos a felicidade, porque tudo o resto é areia.

E a cerveja! Ah, a cerveja, por muito ocupada que seja a vida, há ainda tempo para poder estar com os amigos! Ponderando bem e perante a ambiguidade da ‘falta de tempo’ e das competências que adquirem fico dividida entre a culpa e o orgulho de estar a educar seres humanos confiantes, competentes e saudáveis, que têm objetivos de vida bem definidos. E eu? Eu estarei lá de mãos dadas com os meus homenzinhos para os acompanhar em tudo o que necessitarem e continuar orgulhosa de todos os feitos alcançados.

 

 

 

 

 

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